28 de Abril de 2019
IN ALBIS
Regenerados pela graça, vestidos de branco, como corresponde àqueles que rece-beram a luz de Cristo ressuscitado no Baptismo, reunimo-nos na casa da Igreja. E deixamos que a luz da ressurreição nos ilumine. Revestidos de Cristo ressuscitado, abandonamos o templo para sermos sinais da luz que irradia da sua vitória sobre a morte. Na minha modesta opinião, é uma pena que a celebração da Divina Miseri-córdia vá eclipsando esta dimensão baptismal-pascal deste domingo.
BAPTISMO
Na sua maioria, as famílias reagem mal a celebrar o Baptismo dos seus bebés na Vi-gília Pascal. Torna-se-lhes incómodo e, além disso (pelo que parece, o que é mais grave) rompe com o esquema de que o Baptismo deve estar acompanhado de um banquete festivo. Por isso, este domingo pode ser muito apropriado para o celebrar no quadro da Eucaristia. Assim ficará mais evidente a relação entre ambos os sa-cramentos com a Páscoa do Senhor. O Baptismo é o selo da Páscoa que recebemos uma só vez, para ficarmos marcados de maneira indelével. E a Eucaristia, memorial da Páscoa, renova em nós de maneira constante as sequelas deste sinal.
DIVINA MISERICÓRDIA
Comporta o perigo de se converter numa festa independente da própria Páscoa. As novenas que têm lugar em algumas paróquias e inclusive catedrais não favorecem a manifestação do enraizamento Pascal da mesma. A piedade popular tende a centrar a sua atenção no segundo domingo da Páscoa, quando na realidade Deus revelou e derramou a sua misericórdia nos eventos celebrados no Tríduo Pascal.
MISERICÓRDIA
O fragmento evangélico apresenta-nos o perdão como sinal da presença do Ressuscitado no meio dos seus. A ferida do homem de todo o tempo aparece como lugar da presença do Senhor que nos manifesta o Deus que compreende as nossas debilidades, ferido por nos amar, que se deixa tocar nas feridas da humanidade, como diria o Papa emérito. A ressurreição é a força do perdão de Deus que sana as feridas do coração e da consciência. Que cura as feridas da inimizade, da injustiça e do egoísmo humanos. As chagas do Ressuscitado permanecerão abertas até ao fim dos tempos, quando for demolida definitivamente a nossa natureza pecadora e reconstruído tudo o que estava derrubado e se manifeste a plenitude da vida (cf. Prefácio Pascal IV).
MEDO
O medo dos discípulos, encerrados no Cenáculo, torna-se valorosa alegria ao ver o Ressuscitado. Cheios do seu Espírito, podem abrir portas e janelas e proclamar sem temor algum a Boa Notícia. Abundantes e múltiplos são os temores que hoje nos paralisam e intimidam. São um obstáculo para viver com alegria a nossa fé e tam-bém para a comunicar, para levar a cabo a tarefa evangelizadora. Sentimo-nos mar-ginalizados e encurralados quando não recusados e condenados ao ostracismo. No meio de uma sociedade impermeável a Deus e com demonstrações de um anticleri-calismo de certa tonalidade agressiva, podemos ter a tentação de nos fecharmos e defender-nos entre as quatro paredes das nossas comunidades. Com a sua presença e a sua paz, o Ressuscitado vem comunicar-nos o seu alento.
GESTO DA PAZ
O Senhor saúda-nos com a sua paz, escutámo-lo no Evangelho. Ele mesmo é a paz, a sua fonte. Portanto, o gesto da paz deve ser realizado e experimentado como sinal da presença do Ressuscitado no meio dos seus. A paz que damos não provém de nós mesmos, mas de Cristo ressuscitado. É a saudação que nós recebemos d’Ele e estendemos aos que estão presentes.
CÍRIO PASCAL
Adornámos com abundância de flores o suporte em que colocámos o Círio Pascal na Vigília Pascal. Oito dias depois, algumas dessas flores já murcharam. O Círio Pascal há-de brilhar nas celebrações de todo o Tempo Pascal, como recordação gozosa de que a luz da vitória de Cristo anuncia a nossa participação na luz que não conhece ocaso. Por isso, devemos fazer o esforço de manter o suporte decorativamente adornado ao longo da Cinquentena pascal.
Antonio Astigarraga
Professor de liturgia e pároco da Paróquia Pentecostes de Irún
Tradução: Marques Pereira