Conclusão do Ano Dedicado a São José
Sé de Beja, 8 de dezembro de 2021
Queridos irmãos e irmãs:
1. Estamos reunidos na Catedral da nossa diocese, a única diocese de Portugal que tem São José como Padroeiro Principal. Nestas II Vésperas da Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, celebramos a conclusão deste ano que o Santo Padre lhe dedicou para comemorarmos os 150 anos da sua proclamação como Padroeiro da Igreja Universal.
As leituras que agora escutámos falam-nos de Maria e de José. De Maria, concebida sem mancha do pecado original, aquela na qual superabundou a graça, na qual a graça reina pela justiça, para nos dar a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 5, 20b-21). Padroeira e rainha de Portugal, que dia-a-dia invocamos sobretudo com o Terço do Rosário, ela sempre se manifestou próxima de nós como virgem e mãe, como serva e rainha. Pedimos confiadamente a sua intercessão para que as dificuldades da crise que atravessamos redundem em abundância de bens para todos nós. Elas nos façam crescer no amor a Ela e ao seu filho Jesus Cristo.
2. Queridos irmãos e irmãs: no último dia do ano de São José, quero convidar-vos a contemplar o que, acerca dele, nos dizia o Evangelho proclamado há momentos. Ele escutou a voz do anjo do Senhor que, num sonho, lhe disse para fugir para o Egito com Maria e o Menino. E o que faz José? Discute com o anjo? Não. Apresenta-lhe as suas conveniências e razões? Não. José escutou a mensagem, levantou-se durante a noite e partiu para o Egito, onde ficou até à morte de Herodes. Quando este morreu, de novo o anjo do Senhor se lhe manifestou em sonhos, dizendo-lhe que regressasse à terra de Israel. E assim fez José.
Como diz o justo num Salmo: (o Senhor) até de noite me adverte o coração (Sl 15), assim José vive atento ao Senhor que, no silêncio da noite, lhe dirige a palavra. E ele escuta. Escuta e obedece-lhe, pondo-a em prática. José fez como o anjo do Senhor lhe ordenou. Podemos aqui verificar que nele se cumpriu aquela palavra de Jesus Cristo: felizes dos que escutam a palavra de Deus e a põem em prática.
O facto de não haver uma única palavra de José registada nos Evangelhos dá-nos a entender que era homem de poucas falas. Pelo contrário, a maior parte de nós, que vimos à Missa, escutamos as leituras e a pregação proclamamos a fé, aclamamos o Senhor e dizemos-Lhe ‘ámen’, mas saindo da igreja já não temos palavras para dar testemunho e esquecemo-nos de que o ‘sim’ da Liturgia deve ser traduzido nas obras do nosso dia-a-dia. Dizemos ‘sim’ a Deus quando escutamos a Sua palavra, mas dizemos-Lhe ‘não’ quando se trata de a pormos em prática.
Bem-aventurado São José, nosso Padroeiro, homem justo e crente, ajudai-nos a imitar-vos na escuta da palavra do Senhor, como vós a escutastes. Concedei-nos, sobretudo, a prontidão de espírito para a pormos em prática.
3. Do Egito chamei o meu filho (Os 11, 1). São Mateus oferece-nos esta citação do Profeta Oseias como chave para compreendermos este texto. O filho de Deus referido pelo Profeta é, antes de mais, o Povo de Israel que Deus ama e que, como um Pai cheio de amor, liberta da escravidão do Egito. O facto de Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, reviver na sua história os acontecimentos da Páscoa e do Êxodo, apresenta-no-l’O como o progenitor do novo Israel. O papel de São José, o servo fiel e prudente que o Senhor pôs à frente da Sua família é, na sua simplicidade, importantíssimo para isso acontecer.
Como figura dos pastores e dos presbíteros, que nos ensina São José? Que podemos aprender dele? Casado com Maria santíssima, vivendo com ela um matrimónio virginal, ele defendeu-a e defendeu Jesus daqueles que agiam como seus inimigos e queriam fazer-lhes mal. Essa é a tarefa principal dos presbíteros: cuidar e defender a Virgem Maria e Jesus, ou seja, o mistério da Igreja, para que Cristo possa formar-se e crescer naqueles que, Domingo após Domingo, frequentam a comunidade cristã. Sem este trabalho humilde de José, cujo resultado é resumido por São Lucas nestas palavras: Jesus era-lhes submisso (Lc 2, 51), sem a vivência daqueles trinta anos na Sagrada Família de Nazaré, família de servos, não seria possível para nós sair do Egito e viver a Páscoa e o Êxodo da Nova Aliança.
Do Egito chamei o meu filho. Que nos diz esta palavra a nós que agora somos filhos adotivos de Deus? Que significa para nós o Egito senão o viver escravos de nós próprios, o viver para nós mesmos? Quem é escravo adora os ídolos do mundo e pede-lhes aquilo que só Deus nos pode dar, ou seja, a felicidade plena, a vida eterna, à qual temos acesso apenas aceitando a nossa condição de criaturas e filhos adotivos de Deus. Sair do Egito é tornarmo-nos membros vivos da Igreja, membros deste Povo que vive caminhando para a Terra Prometida.
Glorioso São José, escolhido por Deus, para que no Seu Filho se cumprisse a experiência da estadia no Egito e da sua saída para a Terra Prometida, ajudai-nos a nós, os pastores desta Diocese de Beja, a servir com amor a libertação de tantos homens e mulheres chamados por Deus à santidade mas que são escravos do dinheiro, do trabalho, da luxúria, e vivem para si mesmos. Concedei-nos um amor grande a Jesus Cristo e à Virgem Santíssima, ensinai-nos a amar a Igreja com um coração puro e dedicado, dispostos a sofrer por seu amor.
4. Bem-aventurado São José: na vossa condição de pai adotivo de Jesus trabalhastes para que nada Lhe faltasse. A Santa Igreja apresenta-vos como modelo para os operários e trabalhadores, e foi nessa condição que a Diocese de Beja vos escolheu para seu Padroeiro. Rogai, amado São José, por todos aqueles que ganham o seu pão e o pão das suas famílias com o suor do seu rosto, e não esqueçais aqueles que atualmente não têm trabalho e passam mal.
Feliz de vós, São José, que morrestes nos braços de Maria, vossa esposa, e de Jesus! Nós vos pedimos também por aqueles que chegam ao fim das suas vidas. Concedei-lhes a graça de se entregarem inteiramente à vontade de Deus para partirem deste mundo em paz.
Rogai por todos nós, São José. Rogai por esta Diocese que vos está consagrada. Concedei às famílias a fecundidade física e sobretudo espiritual, que nasce do serviço humilde e amigo aos irmãos. Concedei-nos presbíteros santos que escutem a palavra de Deus, a ponham em prática e pratiquem e ensinem os outros a viver o culto espiritual que se traduz no oferecimento de nós próprios ao Senhor.
Ajudai-nos a viver a nossa vida como um tempo de Advento, no qual esperamos a vinda de Cristo. Libertai-nos das mesmas tentações que vós suportastes para viverdes, de forma tão nova, ao serviço de Jesus Cristo nosso Senhor. Amen.
+ João Marcos, Bispo de Beja