“Os Sete” Diáconos
Embora os Apóstolos se sintam pessoalmente responsáveis pelas comunidades por eles fundadas, conforme as necessidades, e no diálogo entre os responsáveis e a assembleia, vão surgindo colaboradores dos Apóstolos. Nesta linha, para que a distribuição dos bens provenientes da generosidade dos cristãos se fizesse ordenadamente, organizou-se um “serviço diário”, originariamente sob a autoridade dos Apóstolos, que devia atender aos mais necessitados e particularmente às viúvas. Perante a tensão surgida na comunidade de Jerusalém entre os “hebreus” e os “helenistas” – queixando-se estes do esquecimento a que eram votadas as suas viúvas no serviço diário – surgiu a necessidade de se criar um ministério particular para esta situação (Act. 6, 1-7). Também esta criação foi realizada no diálogo entre os responsáveis e a assembleia, tendo em conta os dons do Espírito Santo, sobretudo na linha do serviço aos irmãos. A instituição destes “sete homens” de boa reputação e “cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Act. 6,3), está directamente relacionada com a obra de assistência social relacionada com o “serviço das mesas” ou a ajuda material aos mais necessitados. Mas há dois – Estêvão e Filipe – que nos aparecem ocupados não com o “serviço diário” às mesas mas com a proclamação do Evangelho em ambientes helenistas (Act. 6,8-10; 8, 26-40) ou Samaritanos (Act. 8, 4-13).
O Diaconado e o Ministerio Episcopal
O Novo Testamento, apesar das poucas alusões (Fil. 1,1; 1 Tim. 3,8-13), permite-nos situar o ministério do diaconado não como independente mas em função dos Bispos e dos Presbíteros. À semelhança de S. Paulo, que os considera como constituintes de um grau hierárquico da Igreja (Fil. 1,1), exigindo-lhes por isso certas qualidades pessoais (1 Tim. 3,8-13), também a Didaché os tem em grande estima, juntamente com os Bispos: «homens mansos, desinteressados, verdadeiros e provados». Santo Inácio de Antioquia chama-os seus “colegas de serviço”, “particularmente queridos, encarregados do ministério de Jesus Cristo...” Devendo ser respeitados “como a Jesus Cristo”, são seus e indispensáveis à vida da Igreja, ao ponto de sem eles, tal como sem os Bispos, não se poder falar de Igreja. Na Carta aos Tralianos sublinha que “não é de comidas e bebidas que são diáconos, mas são servos da Igreja de Deus” (II, 3), indispensáveis à vida da Igreja, não se podendo, sem eles, falar de Igreja (cf. III, 1). Assistiam os Bispos quer como seus delegados às várias Igrejas, quer sendo seus conselheiros e companheiros nas missões itinerantes – porque “particularmente queridos” – quer ainda exercendo o ministério da Palavra, como o próprio Inácio de Antioquia testemunha a respeito do diácono Fílon e de Reo Agatópode. Policarpo de Esmirna coloca-os “submissos aos anciãos e ministros, como a Deus e a Cristo” e chama-os “servidores de Deus e de Cristo, não dos homens”, pelo que devem ser irrepreensíveis, isentos de cobiça, castos, misericordiosos e zelosos. Segundo a Tradição Apostólica de Hipólito de Roma, na ordenação dos diáconos somente o bispo impõe as mãos ao candidato e não todo o presbitério porque “o diácono não é ordenado para o sacerdócio, mas para o serviço do Bispo” (nº 24). Na Didascália dos Apóstolos encontramos relações muito estreitas entre o Bispo e o diácono ao ponto de serem comparadas com as de Cristo com o Seu Pai: “Assim como Cristo nada faz sem o Pai, assim também o diácono nada faz sem o bispo. Assim como O Filho não existe sem o Pai, assim também o diácono não existe sem o seu Bispo. Assim como Cristo está ordenado ao Pai, assim também o diácono ao Bispo. E assim como o Filho é mensageiro e profeta do Pai, assim também o diácono é mensageiro e porta-voz do Bispo”. A realização do ideal das relações na unidade do Filho com o Pai frutificará em favor da paz na Igreja: “Tende uma só alma e exigi com diligência que o povo seja unânime, porque ambos deveis formar um só corpo, pai e filho, uma vez que sois imagem de Deus...Seja o diácono o ouvido e a alma do Bispo, porque se ambos formardes um só coração, pela vossa concórdia reinará a paz na Igreja”. De um modo geral, podemos concluir que o diácono era ordenado para o serviço do Bispo, pronto para executar tudo o que este lhe ordenasse. Neste âmbito, é de supor que tinha um campo de acção muito amplo uma vez que lhe competem todas as funções que o Bispo lhe confia e que não são exclusivamente sacerdotais tais como algumas tarefas administrativas, litúrgicas e caritativas. Nas assembleias Eucarísticas o diácono devia participar também na qualidade de “liturgo”. Deste modo, antes do início do ofício, pelo menos um deles devia colocar-se à porta da Igreja fazendo o acolhimento e acompanhando os fiéis até aos lugares para eles preparados. Iniciado o ofício, alguns diáconos deviam ficar no meio dos fiéis «para cuidar da ordem e do silêncio» enquanto outros serviam ao altar durante o sacrifício Eucarístico. No seu ministério litúrgico, ao Diáconos ocupavam-se também da preparação das oferendas do pão e do vinho, “partir o pão”, «apresentar ao presbítero a Eucaristia» e o cálice aos fiéis, ao lado do presbítero que distribuía “o pão consagrado”. S. Justino apresenta-nos uma disciplina algo diferente, competindo aos Diáconos, por direito próprio, a distribuição do pão consagrado aos fiéis. À margem das assembleias eucarísticas dominicais os diáconos estão também ao serviço dos presbíteros quando estes celebram nas prisões, assistem o Bispo na administração dos sacramentos e levam o neófito ao baptistério e exortam-no a renunciar a Satanás.
Numa época em que a Igreja se empenhou seriamente na organização da beneficência é evidente que quis confiar esta função caritativa aos Diáconos, dos quais o Bispo esperava saber quais eram os pobres e os que estavam doentes para que, se o desejasse, os fosse visitar. Não sendo suficiente informar o Bispo acerca das necessidades existentes a sua ajuda nas funções caritativas estendeu-se também à própria recepção dos dons e à sua honesta distribuição. Se nesta obra de beneficência faltasse um especial amor pelos órfãos e viúvas ou se manifestasse qualquer aproveitamento ilícito eram severamente censurados. Em íntima relação com a função caritativa, os diáconos iam-se também inteirando acerca da vida moral e religiosa dos cristãos, dando certamente ao Bispo seu parecer acerca do estado da “vivência religiosa” da comunidade. Frequentemente os próprios diáconos dariam conselhos aos indecisos e instruiriam os ignorantes acerca das verdades fundamentais da fé cristã.