A Igreja católica é constituída por Igrejas Particulares, que são mais vulgarmente designadas por “Dioceses”, e dentro de cada uma delas existem comunidades cristãs, a que chamamos “Paróquias”. A Igreja diz-se católica, que quer dizer universal, por ser uma comunhão de Igrejas Particulares, tendo autonomia cada uma delas ̶ o mesmo não se poderá dizer das paróquias ̶ espalhadas por todos os continentes. Neste sentido, o Papa é, antes de mais, Bispo de Roma. A ele foi-lhe conferida a responsabilidade que Jesus deu a Pedro (Cfr. Mt 16,13-19), nomeadamente todo o poder na Igreja com a finalidade de «confirmar os irmãos na fé»; (Lc 22, 32), é o chamado “múnus petrino”. Assim, a maior missão do Bispo de Roma, ao mesmo tempo Papa, é a de conseguir a unidade da Igreja, ou seja, ele é a rocha da unidade (Khephas). Este termo grego quer dizer “pedra” o que deu origem a Petrus, de onde deriva o nome de Pedro. Compete ao Papa ser o principal defensor dos princípios fundamentais da fé cristã emanados da Sagrada Escritura e da Tradição Cristã, condensados no Credo e encarnados através das orientações dadas pelo Pensamento Social Cristão ̶ designação minha preferida ̶ mas que se designa também por Doutrina Social da Igreja.
A responsabilidade do Bispo de Roma assumir a unidade das Igrejas Particulares, respeitando a autonomia de cada uma, não se tem revelado uma missão fácil. A unidade das Dioceses em cada país já é complexa, quanto mais a nível mundial. Por vezes, parece que se confunde autonomia com independência. No plano humano já não são duas realidades iguais; no plano eclesial cristão católico, a comunhão sobrepõe-se à autonomia. Já basta a separação do cristianismo por várias Igrejas de outras confissões religiosas para se contrariar um dos desejos mais queridos por Jesus: «Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. (…) Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que os amastes a eles como a mim.» (Jo 17, 20 -21; 17, 23).
O problema da falta de unidade não é de agora. Já as primeiras Igrejas Particulares sofriam deste mal. S. Paulo, sobretudo, lamentava-se muito disso. Aconselho a leitura de 1.ª Carta aos Coríntios (1Cor 3, 1- 11). Não quer dizer que todos, (sem negar os princípios fundamentais da fé), sejam obrigados a ter os mesmos pensamentos e formas de agir, mas já não é admissível que haja quem calunie (até publicamente, utilizando órgãos de comunicação social), boicote, despreze… quem não pensa ou age da mesma maneira. Há uma escandalosa falta de diálogo dentro das Igrejas Particulares e de umas com as outras. Não um diálogo que se fique por meras discussões, mas por aquele que pretende encontrar formas de “caminhar juntos”. Viveríamos, então, em verdadeira e permanente testemunho de legítima diversidade em comunhão. Sem querer esmorecer o entusiasmo de ninguém – Deus me livre – confesso que estou cético quanto à forma como está der acolhido e posto em prática o caminho sinodal proposto e tão ansiado por Francisco. Refiro-me, apenas, à realidade que conheço que é a das Igrejas Particulares de Portugal.
Entre os próximos dias 18 a 25, a Igreja assinala o Oitavário pela Unidade dos Cristãos. É importante este tempo de oração, mas não para pedir a Deus que faça, milagrosamente, o que nos compete a nós fazer. E como conseguir a unidade entre as diferentes Igrejas cristãs, se não cuidamos da mesma dentro da nossa própria Igreja? S. Paulo no capítulo mais à frente da Carta já referida, afirma com toda a clareza: «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. (…) Tudo isto, porém, o realiza o único e mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz.» (1Cor 12, 4-7; 12, 11).
Para que a comunhão prevaleça sobre a autonomia, bastava obedecer a Maria: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Só assim poderemos saborear o “vinho novo” que transformaria as nossas comunidades cristãs numa constante boda de alegria.
Eugénio Fonseca
Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado