A PARÓQUIA E O ARCIPRESTADO

 

Entre a Diocese e a Paróquia, encontramos os Arciprestados ou zonas pastorais compostas por várias Paróquias com características geográficas e socioculturais semelhantes, ou relativamente idênticas, com a finalidade de unir a acção pastoral dos agentes pastorais que trabalham nesse território mais alargado.
A paróquia, referência para todos os batizados, na sua configuração social tem sofrido alterações profundas nos últimos tempos e nelas crescem as dificuldades para que os seus membros se sintam participantes de uma verdadeira comunidade cristã. Por isso, muitos preferem situar-se na cómoda posição de “fregueses” que a ela acorrem segundo a medida das suas necessidades, gostos ou simpatias consoladoras. No caso de se sentirem insatisfeitos, a mobilidade dos tempos modernos facilita-lhes a ida à Paróquia vizinha mais próxima.
Face ao desafio de renovar as Paróquias, em função da sua missão, julgo que devemos valorizar o papel dos Arciprestados.

1. Natureza e missão dos Arciprestados

A pastoral de conjunto encontra a sua unidade básica no Arciprestado porque nele devem convergir e integrar-se os diversos esforços ou trabalhos pastorais, conservando a Paróquia e demais instituições a sua natureza, características e missão, na unidade e diversidade.
Uma pastoral de conjunto não será nunca a soma das diferentes pastorais, realizadas individual ou isoladamente, paroquia por paróquia, serviços ou movimentos, mas antes um espírito de comunhão fraterna na missão evangelizadora. Somente os esforços consertados e convergentes de todas as forças eclesiais fortalece o espírito e agir verdadeiramente eclesiais. O objectivo primordial do Arciprestado leva-nos a uma nova imagem da Paróquia na sua relação e enriquecimento permanente com as demais Paróquias.
A real ou aparente desvalorização sofrida pelo Arciprestado parece constituir uma infidelidade ao Concilio Vaticano II e ao próprio Direito Canónico os quais, quando a ele se referem, falam de uma instituição viva com a capacidade para um grande dinamismo pastoral. Para tirarmos esta conclusão, basta prestar uma pouco de atenção ao Estatuto do Arciprestado e do Arcipreste, referido em diferentes lugares pelo Vaticano II (ChristusDominus e EcclesiaeSanctae) e pelo Código de Direito Canónico, completado pelo respectivo Estatuto diocesano, mais pormenorizado, concreto e preciso, em volta de dois eixos: o direito/dever de fomentar e coordenar a pastoral de conjunto no Arciprestado e a obrigação de cuidar dos Padres do Arciprestado, não se esquecendo do aspecto espiritual, pastoral, material e formação permanente.

2. Dimensão Pastoral do Arciprestado
Embora reconhecendo a facilidade teórica e a grande dificuldade na sua construção no quotidiano do trabalho pastoral, não podemos abandonar a ousadia de ter ideias claras e exigentes, a fim de não cairmos na rotina ou vulgaridade pastoral que poucos frutos produz. Deste modo, conscientes da existência de muitos obstáculos, podemos e devemos continuar a sonhar com a ultrapassagem das muitas fronteiras que, neste campo, ainda subsistem, com o desejo de que seja apressada a afirmação do dinamismo pastoral que justifique a existência dos Arcipestado.
Porque a realidade do Arciprestado nos remete para um determinado território, comum a um conjunto de Paróquias, opto expressar um modelo de arciprestado ideal centrando-me no conceito de “espaço”, “escola” e “lugar”. Em primeiro lugar, um espaço de fraternidade e comunhão, de oração comunitária e experiência de Deus, de formação permanente e de educação para a corresponsabilidade e vivência da mesma. Em segundo lugar, uma escola onde Jesus Cristo é  único mestre e, uns com os outros, todos aprendem. Finalmente, um “lugar” onde se programa, coordena, avalia a pastoral de conjunto, possibilitando o trabalho comunitário e valorizando o exercício especializado nos diferentes serviços pastorais, no discernimento dos diferentes dons ou carismas existentes nas diferentes comunidades.
A Paróquia, por si, não consegue dar resposta satisfatória a todas as suas necessidades pastorais, dada a complexidade que é exigida na sua preparação e execução: evangelização dos afastados, catequese para todos, os pobres e/ou excluídos, preparação para os Sacramentos (principalmente os da iniciação cristã e do Matrimónio), grupos de casais, grupos de adolescentes e de jovens, movimentos de apostolado, acolhimento pré-sacramental, acompanhamento depois da celebração dos sacramentos, obras de promoção social, grupos Cáritas paroquial ou congéneres, visita aos doentes e situações de solidão, celebrações litúrgicas, cartório Paroquial, comunicação social, etc. Face a tal complexidade, e para evitar o cansaço, o desânimo e a rotina, impõe-se a necessidade do trabalho em grupo ou equipa e, possivelmente, o Arciprestado será o grupo ou equipa eclesial mais eficaz.

António Novais Pereira

 

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