PRIMEIRA LEITURA (Êxodo 12, 1-8. 11-14): Prescrições sobre a ceia pascal.
A Páscoa é a festa judaica mais importante do judaísmo. É antiquíssima e celebrava-se antes da saída do Egipto quando o povo nómada celebrava a chegada da Primavera. Mas a celebração da Páscoa, que o livro do Êxodo nos explica, associa a intervenção libertadora de Deus à festa. O elemento mais significativo deste ritual é o sangue, que primitivamente afugentava o mal e que aqui identifica os membros do povo de Israel. O sangue é propriedade do próprio Deus, porque é o único que pode dar a vida, e pertence à sua potestade.
A festa pascal identifica-se sobretudo com o pão sem fermentar e o cordeiro pascal, que tinha de ser sacrificado escrupulosamente seguindo as normas da pureza. No tempo de Jesus, a vítima tinha de ser imolada no templo de Jerusalém. No final do texto aparece o acto de recordar, de fazer memória para sempre do que Deus fez pelo seu povo.
SEGUNDA LEITURA (I Coríntios 11, 23-26): «Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor».
A instituição da Eucaristia, tal como é narrada por Paulo, enquadra-se dentro da Última Ceia de Jesus. Paulo não foi o autor da fórmula, mas baseou-se numa tradição que transmitiu à comunidade de Corinto (v. 23). Paulo não foi testemunha deste acto, embora seja o texto mais antigo que no-lo transmite. A redacção paulina tem muitas similitudes com a do evangelista Lucas (cf. Lc 22, 19-20). Jesus faz a oração que se fazia sobre o pão e o vinho nas refeições solenes do judaísmo. Uma oração que tinha um sentido de agradecimento a Deus pelos dons recebidos, e na qual também se faziam petições. Jesus acrescenta umas novas palavras ao ritual, com as quais relaciona o pão e o vinho com o seu corpo e o seu sangue.
Este ritual contém um elemento essencial: a recordação (v. 25c), porque, sempre que partilhamos a Eucaristia, participamos na salvação que nos foi dada pela morte de Jesus. Recordando a aliança com o sangue do Sinai (cf. Êx 24, 8) os primeiros cristãos acreditaram que a nova aliança se tinha selado com o sangue da morte de Jesus.
EVANGELHO (João 13, 1-15): «Amou-os até ao fim».
O texto pode dividir-se em três partes: a primeira (vv. 1-5) na qual João nos situa no tempo da acção e explica o que Jesus faz e com que sentido; a segunda (vv. 6-11) que tem um carácter teológico-sacramental; a terceira (vv. 12-15) mais moralizante. Para um judeu como João, o gesto de Jesus, que lava os pés aos discípulos, não se refere tanto ao que faziam os escravos ou as esposas, ou também os discípulos que lavavam os pés aos convidados e aos mestres em sinal de respeito, mas sobretudo evoca a cena bíblica segundo a qual Abraão recebe a aparição de Deus (cf. Gén 18, 4) ou também a prescrição de lavar os pés antes de entrar no santuário estabelecida por Aarão (cf. Êx 30, 19) e, portanto, poderia estar a referir-se a uma polémica contra as purificações dos judeus: para ter acesso ao novo templo que é o corpo de Jesus ressuscitado, os discípulos hão-de ser purificados unicamente pela Palavra. João situa-nos na Última Ceia de Jesus com os discípulos. Não se trata de uma ceia pascal, pois Jesus morre no dia antes dos cordeiros pascais serem sacrificados no templo. Jesus está prestes a morrer na cruz, mas antes realiza um gesto significativo: lavar os pés aos seus discípulos. Primeiro, assinalar a imagem na qual Jesus Se cinge, porque remete para a luta, ao estilo dos competidores desportivos que se dispõem a exercitar-se. João quer recordar que Jesus luta com Satanás. No final da narração os discípulos são enviados. Jesus dá-lhes poder para se converterem em servidores. Jesus que é o Senhor, porque Deus O enviou e Lhe deu poder, transmite aos seus discípulos poderem participar do seu reino, lavando-lhes os pés. Jesus ensina-lhes que a sua missão ter-se-á que basear no serviço e em saber-se dar aos outros gratuitamente.
Mar Pérez,
in Misa Dominical,
Barcelona 2019/05,
traduzido por Marques Pereira