D. João Marcos, Homilia na Solenidade de S. José Operário

Sé de Beja, 1 de maio de 2019

Ordenação de Diáconos Permanentes

 

1 – Em tudo o que fizerdes ponde a vossa alma, como quem serve ao Senhor e não aos homens. (…) Servi a Cristo, o Senhor (Col 3,24)!

Reverendos Cónegos, caríssimos padres, diáconos e seminaristas, caros religiosos e religiosas, queridos irmãos que hoje sereis ordenados diáconos, e vós todos, irmãos e irmãs que encheis as naves da Sé de Beja neste dia primeiro de maio, solenidade do padroeiro da nossa diocese, S. José:

Em tudo o que fizerdes ponde a vossa alma, como quem serve ao Senhor e não aos homens. (…) Servi a Cristo, o Senhor (Col 3,24)!!

Estas palavras que ouvimos há momentos resumem admiravelmente o agir de S. José. De facto, dele não chegou até nós uma única palavra. Tudo o que dele sabemos não são discursos bonitos, ou palavras admiráveis… Sabemos que, sendo um homem justo, escutava as palavras que o Senhor lhe dirigia em sonhos ou nos acontecimentos, e lhes obedecia. Escutar a palavra de Deus e pô-la em prática, nisto podemos resumir a vida de Cristo e a vida dos cristãos. Escutar a palavra de Deus permite-nos conhecer a Sua Vontade, possibilita-nos deixar para trás os nossos gostos e desejos, a nossa vontade própria, e passarmos, pelo cumprimento da Sua vontade, do inferno para o Céu. É verdade, caros diocesanos: para servirmos o Senhor precisamos de pôr a nossa alma em todas as ações que fizermos. Caso contrário, agindo desalmadamente, ficaremos reduzidos a meros funcionários que, estando embora ao serviço do Senhor, servem os outros para ganhar a própria vida, ou seja, é a si mesmos que se servem.

Despertando do sono, José fez como o Senhor lhe ordenara.

Foi assim que Ele entrou no desígnio de Deus aceitando Maria por sua esposa. Foi assim também que se pôs a caminho de Belém para se recensear e que fugiu para o Egito para salvar da morte o Menino Jesus, e que, depois do falecimento de Herodes, regressou com Maria e com Jesus à terra de Israel e se fixou na cidade de Nazaré.

Fez como o Senhor lhe ordenara.

Ele, José, o chefe da Sagrada Família, é o Servo fiel e prudente que o Senhor colocou à frente da Sua casa. José não é o Senhor, é o Servo, esposo de Maria, a Serva do Senhor, do Senhor que, por nosso amor, Se fez Servo obediente até à morte e morte de Cruz!

A Sagrada Família de Nazaré, modelo perfeito das nossas famílias católicas, é uma família de servos, não de senhores. Ali, não se lutava por alcançar o primeiro lugar ou por conseguir um equilíbrio de forças, mas por servir. Ali não se perguntava: quem manda aqui? Ali, na Sagrada Família de Nazaré, cada membro servia os outros e ocupava o último lugar, por amor a Deus e ao próximo, por obediência amorosa ao Senhor.

Eis o Servo fiel e prudente que o Senhor colocou à frente da Sua casa!

Estamos habituados, queridos irmãos e irmãs, a ver aplicadas estas palavras da Escritura Sagrada a São José, que o Senhor pôs à frente da Sua família e que a Santa Igreja põe à nossa frente como protetor e modelo para todos nós, cristãos. Ele, o menos importante naquela família de servos, dava ordens a Maria e a Jesus, o Filho de Deus, que lhe obedeciam.

Queridos irmãos que dentro de momentos sereis ordenados: quereis ser diáconos plenamente realizados? Convido-vos a ver em S. José, servo de Maria e de Jesus e nosso padroeiro, uma figura, uma imagem, uma fotografia daquilo que Deus e a Igreja esperam de cada um de vós, pois a palavra Servo é a tradução portuguesa da palavra grega diácono.

 

2 – O Concílio Segundo do Vaticano restaurou o Diaconado Permanente na Igreja latina. Foi para aliviar os presbíteros, uma vez que eles podem presidir a alguns sacramentos e sacramentais, pregar o Evangelho, e administrar os bens da Igreja? Sem dúvida, um bom diácono é uma ajuda preciosa nos trabalhos de uma paróquia ou de uma diocese. Mas creio, caros irmãos e irmãs, que aquilo que a diocese e as nossas paróquias devem esperar dos diáconos, e aquilo para que realmente foram restaurados, é a manifestação deste espírito de servos que é o verdadeiro espírito do Senhor Jesus. É este estar para servir a todos como escravo por amor, ocupando o último lugar, pondo-se ao nível daquilo que os outros têm mais baixo, os pés, para lhos lavar. O diaconado é o alicerce deste edifício que é o Sacerdócio cristão. Ninguém é ordenado presbítero ou bispo sem antes ser ordenado diácono. E podemos dizer que, ao ser ordenado bispo, um homem deixa de ser presbítero, mas continua a ser diácono, servo. Sabeis, caros irmãos, qual é o título do Papa? Rei dos reis, Senhor dos senhores? Não. Ele é, e considera-se como o Servo dos servos de Deus. Diácono dos diáconos de Deus.

Quantas vezes, queridos ordinandos, ouvistes estas reflexões ao longo dos anos da vossa formação! Não as esqueçais! Levai-as a sério, gravadas em vossos corações. Penso que o cancro do clericalismo, próprio das estruturas velhas das nossas paróquias e diocese, se pode curar com o testemunho alegre da vossa diaconia exercida por amor a Cristo. Por amor a Ele, unidos a Ele, só assim podereis manifestar e tornar presente, na Igreja e no mundo, a Sua diaconia.

 

3 - Não é fácil ser diácono nesta Igreja tão moldada pelo espírito do mundo, e neste mundo onde todos querem ser senhores! É próprio dos diáconos a pregação do Evangelho, do Evangelho que anuncia a chegada do Reino dos Céus e que denuncia quem vive sujeito à corrupção do mundo presente pela soberba, pela avareza, pela luxúria, pela ira, por todos esses pecados que nos afastam de Deus.

Na leitura do Evangelho de hoje escutámos, queridos irmãos, a visita de Jesus à Sua cidade de Nazaré. E que aconteceu lá? Os Seus conterrâneos começaram por se encantar com as palavras cheias de sabedoria que lhes dirigia, mas rapidamente se escandalizaram d’Ele. E, pela sua falta de fé, o Senhor Jesus não pôde fazer ali muitos milagres.

Contemplemos Jesus pregando, na Sua terra, aos seus conterrâneos. Quantas vezes, também vós, caros diáconos, tereis de pregar nas terras onde viveis. E se o Senhor Jesus foi desprezado e rejeitada a Sua pregação, não vos admireis se vos acontecer algo semelhante. Como disse o Senhor Jesus: o discípulo não é mais que o Mestre.

Mas procurai manter o vosso coração tranquilo diante do Senhor se pregais o Seu Evangelho e não caís na tentação de o substituir por palavras simpáticas que agradam às pessoas, mas as enganam. Esta responsabilidade que tendes de anunciar a palavra da Salvação deverá estar muito clara em vossas mentes: a palavra que pregamos é a palavra feita carne em nós. Como escreveu S. Gregório Magno, há uma norma para o pregador: que cumpra a palavra que anuncia. A fecundidade da nossa pregação dependerá em boa parte, de as pessoas que nos escutam verem que vivemos de acordo com as palavras que pregamos.

 

4 - Em tudo o que fizerdes ponde a vossa alma, como quem serve ao Senhor e não aos homens. (…) Servi a Cristo, o Senhor!

Para que estas palavras se cumpram também em vós, para que trabalheis como diáconos de Cristo e, sempre e em tudo O sirvais com coração indiviso e generoso precisais de O amar, de viver a partir d’Ele como Ele vive a partir do Pai, precisais de amar o silêncio, de fazer oração todos os dias, de estar com Ele, de saborear a Sua palavra, de aprender a tudo encaminhar para Ele. Aqueles que sois casados, queridos irmãos, procurai que as vossas famílias se transformem em verdadeiras igrejas domésticas, onde Jesus Cristo Nosso Senhor seja louvado, adorado e obedecido. Procurai cuidar do bem das vossas famílias. Em vossas preocupações, elas sempre deverão ter a primazia. Seria muito mal se o Sacramento da Ordem que hoje ides receber viesse a dificultar o bom funcionamento do vosso matrimónio. Ele vos ajudará, assim esperamos, a vivê-lo de uma forma nova, com o aroma das virtudes cristãs a perfumar todos os vossos relacionamentos.

 

5 – Hoje, caros irmãos, é dia de festa para a Igreja de Beja! Demos graças ao Senhor pelo admirável padroeiro, S. José, que nos concedeu. Aprendamos com ele o silêncio da atenção amorosa àqueles que o Senhor nos manda servir, aprendamos com ele a escutar o Senhor, a aceitar como nossa, a Sua vontade Santa, e a obedecer-Lhe pondo toda a nossa alma em tudo o que fizermos, para O servirmos dignamente.

Alegremo-nos, caríssimos irmãos! Louvemos o Senhor por estes irmãos que hoje nos vão ser dados como diáconos. Peçamos-Lhe por eles, pela sua fidelidade, pela fecundidade do seu trabalho pastoral e pelas suas famílias. E que o testemunho da sua humilde dedicação ao serviço da Igreja, nos faça crescer a todos numa comunhão mais autêntica e missionária, dispostos a servir sempre, com amor, a Cristo Jesus.

+ J. Marcos

Tags: