SINAIS DA PRESENÇA DO RESSUSCITADO

 Ao longo deste Tempo da Páscoa, a liturgia vai-nos descobrindo diferentes realida-des sacramentais, no sentido em que nos permitem perceber como se torna presen-te o Senhor no «hoje» da Igreja. Este domingo convida-nos a observar a missão pas-toral da Igreja como presença do Ressuscitado. Jesus confiou à Igreja o anúncio da Boa Nova da Ressurreição, mas não sem a sua implicação nem a sua presença. No evangelho escutamos que a pesca dos discípulos concluía com um estrepitoso fra-casso. É a imagem da Igreja auto-referencial. Uma Igreja que não tenha Cristo como princípio e fim do seu ser e da sua tarefa no mundo, não poderá ser sacramento do Ressuscitado e o seu ministério evangelizador será baldio. É a presença do Ressusci-tado que converte o desastre em êxito extraordinário. «Lançai a rede». O imperativo do Senhor continua a ressoar na comunidade dos discípulos, geração após geração, como sinal de que, a sua participação pessoal, liberta a Igreja da tentação de se constituir numa instituição secular ou mundana. O Senhor não Se desliga da tarefa evangelizadora da Igreja. Por isso, temos de realizar a nossa missão a partir de uma confiança serena. Mas a confiança não abunda entre nós que nos sentimos em cam-po aberto, lutando à noite, inclusive com a falta da ténue luz da lua que oriente os nossos esforços, e sem que obtenhamos resultados visíveis. Hoje deveríamos convi-dar a comunidade e exprimir a nossa confiança com a oração de confiança por anto-nomásia: o Pai Nosso.

COMPLEMENTADA PELA EUCARISTIA

Efectivamente, tal como concluímos do fragmento evangélico, a missão evangeliza-dora encontra o seu porto seguro ao voltar constantemente às margens da Eucaris-tia, onde o próprio Ressuscitado Se torna presente para lhe conceder a sua força, o seu vigor, a própria Pessoa. Pedro reconhece o Ressuscitado e, saltando do barco, nada para a margem em sua busca, e ali, uma vez que se reuniram todos, o Senhor parte para eles o pão e o peixe (recordemos que o símbolo do peixe é, desde as primeiras gerações do cristianismo, sinal do próprio Senhor). A cena relatada é um chamamento a que, tal como Pedro, abramos os olhos da fé para poder reconhecer o Senhor no meio de nós e experimentemos na primeira pessoa esse encontro de amor com o Ressuscitado que nos alimenta e alenta a nossa vocação de testemu-nhas valentes da ressurreição, seguindo os passos dos Apóstolos, segundo o relato dos Actos.

PROPOSITIVA

O nosso labor de anúncio não deve ter carácter impositivo, como se tratasse da ac-tuação de uma seita proselitista que quer somar adeptos submissos. O Senhor cha-ma-nos para um encontro de amor. O amor não pode impor-se. Propomos o Evan-gelho sabendo que navegamos contra a corrente, no meio de águas procelosas, como acontece aos discípulos que se encontram com a oposição das autoridades, mas sem perder a nossa identidade de testemunhas do amor entregue na cruz.

CORDEIRO IMOLADO

O texto do livro do Apocalipse apresenta-nos o céu, a vitória definitiva do Senhor, a partir de uma visão litúrgica na qual se destacam o louvor, a adoração e a contem-plação. Deveríamos ajudar os nossos fiéis a participar na Eucaristia concebendo-a e vivendo-a como uma antecipação, uma primícia, desta Eucaristia celestial que os redimidos celebram com alegria transbordante diante da presença do Cordeiro. O hino do Glória, cantado com regozijo. O uso do Prefácio I da Páscoa que nos fala ex-plicitamente do Cordeiro que nos libertou do pecado e da morte e nos chama a par-ticipar na liturgia celestial. O Agnus Dei que acompanha o gesto da fracção do pão antes da comunhão com o qual reconhecemos no sacramento eucarístico o Cordeiro que permanece perenemente em atitude de entrega e nos chama à dita de gostar de antemão o banquete do Reino dos Céus. Contemplação, adoração, louvor acom-panham todos estes momentos e, de maneira especial, o da comunhão.

VIA LUCIS

O Directório sobre a Piedade Popular e Liturgia da Congregação para o culto e disci-plina dos sacramentos, no seu número 153, recomenda a práxis da Via lucis no Tempo Pascal. Carece de raízes nas nossas comunidades cristãs, mas a proposta da sua realização obtém em alguns casos uma resposta inesperada por parte dos fiéis que acorrem em número considerável. No Directório não se indica qual seja o dia ou o momento propício para este acto devocional, mas pode ser adequado fazê-lo ao longo da tarde do domingo.

Antonio Astigarraga

Professor de liturgia e pároco da Paróquia Pentecostes de Irún

Tradução: Marques Pereira

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