Homilia de D. João Marcos

DIA DA IGREJA DIOCESANA de BEJA

21 de setembro de 2019

 

 

Senhor Vigário Geral, Senhores Cónegos, Presbíteros e Diáconos, Religiosas e Religiosos, vós todos fiéis leigos:

1 - Nenhum servo pode servir a dois senhores! (…) Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro!

Ouvimos, há momentos, no Evangelho. estas palavras do Senhor. E na primeira leitura da missa de ontem, se vos lembrais, escutámos a afirmação de S. Paulo a Timóteo: o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. O amor ao dinheiro, não o dinheiro. O dinheiro é uma coisa boa que facilita as trocas e os relacionamentos interpessoais. O problema não está no dinheiro, está nos nossos relacionamentos errados com ele, quando o pomos no lugar de Deus e lhe pedimos a vida, a felicidade, e tudo o mais que ele não pode dar-nos. O amor ao dinheiro, a idolatria do dinheiro é um erro. Costuma dizer-se que o dinheiro é bom para criado e péssimo para patrão. É bom como meio, e péssimo quando se finaliza, quando se pensa que ele pode resolver todos os nossos problemas. Por isso o Senhor nos dizia há momentos, no final da parábola do administrador infiel, para aprendermos a ser inteligentes como esse administrador: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, esses amigos vos recebam nas moradas eternas.

A justiça nova do Evangelho de Jesus, caríssimos irmãos, baseada no relacionamento com Deus, com os outros, e com os bens materiais, pratica-se antes de mais fazendo esmola, cultivando a liberdade perante o dinheiro. Àquele homem que se aproximou de Jesus perguntando-lhe o que deveria fazer para alcançar a vida eterna, o que lhe respondeu o Senhor? Vai, vende o que tens e dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem, e segue-Me. Sobre este alicerce pode construir-se, com solidez, a torre da vida cristã na qual os outros são vistos como irmãos e não como adversários, pois os reconhecemos como filhos adotivos de Deus. Quantos homens e mulheres da nossa diocese se dizem filhos de Deus e irmãos e nunca se provaram seriamente nos bens! E porque, em teoria, confiam em Deus, vêm à igreja e adoram o Senhor com as palavras dos seus lábios, mas, na prática, é ao dinheiro que buscam, adoram e prestam culto nos seus corações. E, por isso, quantas desavenças nas partilhas, quantas desonestidades e raivas, quantas divisões e ódios entre familiares provoca o amor ao dinheiro! E também nas paróquias e dioceses, quantos problemas surgem quando alguém é escravo do dinheiro…

Escutemos e guardemos, caros irmãos e irmãs, estas palavras sábias do Senhor: Façamos amigos com o vil dinheiro! Mais vale ter amigos que bens materiais, pois quando partirmos deste mundo, são as obras que nos acompanham, não as coisas.

Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro!

Se somos servos de Deus, sirvamo-l’O, usando bem o dinheiro para ajudarmos os pobres e necessitados! Sejamos nós a mandar nele e não o contrário. Sirvamo-nos do dinheiro, não o sirvamos a ele. Sejamos livres em relação ao dinheiro e não nos deixemos escravizar por ele.

 

2 – Estamos celebrando a Eucaristia neste Dia Diocesano que inaugura o ano pastoral das comemorações dos 250 anos da restauração da diocese. A diocese existe porque, como escutámos na segunda leitura, Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos.

São muitos os nomes que fizeram a história da diocese de Beja nestes duzentos e cinquenta anos, mas é um só o Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus. Imolado sobre a cruz, oferecido ao Pai por todos nós em sacrifício de expiação, Ele ressuscitou para nos dar o Seu Espírito. E agora, sentado à direita do Pai, continua, como único Mediador, a interceder por nós. Damos-lhe graças por tantos dons que tem concedido aos diocesanos de Beja ao longo destes duzentos e cinquenta anos de vida da diocese, sem esquecermos que, desde os tempos primitivos, o Seu Nome foi invocado nestes lugares, como mostram eloquentemente as explorações arqueológicas de Mértola, de Selmes e de S. Cucufate.

Para que a Boa-Nova chegue também hoje aos ouvidos e aos corações de todos os que habitam as terras desta diocese é que a Igreja está aqui implantada. A dimensão missionária da Igreja é parte integrante da sua identidade. No coração de uma diocese católica deve necessariamente pulsar o mesmo amor do Pai que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, ou seja, ao conhecimento de Cristo Senhor. Conhecer Cristo Nosso Salvador é amá-l’O com todo o coração, é tê-l’O entronizado em nossos corações como único Senhor que não deixa espaço para a adoração de ídolos, nem para a idolatria do dinheiro.

 

3 – Tal como S. Paulo afirmou há momentos, também eu, sucessor dos apóstolos, fui constituído arauto e apóstolo da realeza de Cristo Senhor. Para quê? Para anunciar o Evangelho, para presidir à oração em Seu Nome, para ser Mestre dos gentios na fé e na verdade. E exorto-vos com as mesmas palavras do Apóstolo: Quero portanto que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.

Neste ano pastoral que estamos iniciando convido-vos, queridos irmãos e irmãs, a cultivar a oração. As sete catequeses para adultos que em breve ireis receber e que devereis, em princípio, fazer até ao início da Quaresma, são um verdadeiro tesouro à vossa disposição, para vos ajudar a crescer na maturidade da vida cristã. Aproveitai-as bem. 

 Com este espírito, irmãos e irmãs, com os nossos corações levantados para o alto, libertados do amor ao dinheiro e abertos para acolherem e amarem a Cristo nosso Senhor, celebremos agora a Eucaristia.

 

+ J. Marcos

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