"Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral"

A razão de ser do Sínodo

 

É com este tema que está a acontecer algo de inédito – pelo menos para mim – na Igreja, que é um Sínodo dos Bispos dedicado a questões relacionadas com uma região do mundo. Trata-se, na verdade, de uma Assembleia Sinodal com caraterísticas muito especiais relacionadas com a Região Pan-Amazónica da Amazónia. Este Sínodo foi anunciado pelo Papa Francisco, em outubro de 2017, tendo procedido ao seu lançamento durante a visita que realizou a Puerto Maldonado, em janeiro de 2018. Esta é mais uma evidência dada pelo Papa Francisco do seu desígnio de aproximar a Igreja das suas fontes primitivas, mantendo-a em permanente estado sinodal. Como todos os encontros desta natureza, também este foi precedido de um vastíssimo processo de escuta, fundamentalmente, aos católicos de todas as condições que habitam na Amazónia, uma região do mundo marginalizada há muito tempo e o seu sofrimento ignorado pelos poderosos do mundo. Neste caso, “escutar” implica reconhecer a Amazónia como sujeito e não como um meio para satisfazer desejos inconfessáveis que interessam a uma pequeníssima minoria, mas que afetam todo o mundo. ”Escutar” requer ainda uma conversão autêntica de todos nós. Mas, durante este mês, pede-se aos Padres Sinodais essa atitude de “escuta” de modo a que se abram às principais questões que surgem das "periferias geográficas e existenciais" durante e após o Sínodo.

 

Apesar do tema se referir a uma região específica, o Sínodo propõe uma reflexão que vai muito além, abrangendo toda a Igreja e o respeito pelo futuro do planeta Terra, nossa "Casa Comum".

Esta minha reflexão, como as que se seguirão enquanto decorrer a assembleia dos Bispos, em Roma, assenta num conjunto de ideias que foram colocadas à nossa disposição pela “Caritas Internationalis” e que, desta forma, procurarei fazê-las chegar mais longe. 

Muitos se têm perguntado pela razão de ser deste Sínodo. As questões, reafirmo, resultam, da novidade que ele encerra. O tema é um território, um lugar, um conjunto de ecossistemas que não abrigam apenas espécies vegetais e animais, mas servem como habitat para milhões de pessoas; esta visão interconectada corresponde às preocupações da Encíclica Laudato Si', quando fala de uma “ecologia integral”.

De um território, a reflexão sinodal é projetada para outros lugares que também são vitais para o nosso planeta: a bacia do Congo, o Corredor Biológico Mesoamericano, as florestas tropicais da Ásia e do Pacífico, o Sistema Aquífero Guarani, as geleiras da Patagónia, etc. Foi o Cardeal Baldisseri, secretário-geral do Sínodo, que afirmou ser "essencial" considerar a Amazónia como "o ponto central" do Sínodo dos Bispos (...), acrescentando que "também existem outras "amazónias" no mundo com problemas eclesiais e ambientais semelhantes, como as acima já referidas: “as regiões ligadas ao sistema aquífero Guarani, o corredor biológico da América Central, a bacia do Congo ou as florestas tropicais da Ásia e do Pacífico”[1].

Rezemos por todos os que participam neste Sínodo, solicitando ao Espírito divino que os acompanhe no decorrer de todos os trabalhos e acompanhemos com muito interesse os ecos que nos forem chegando de Roma.

 

                                                                                                              Eugénio Fonseca

 

[1] https://www.vaticannews.va/es/vaticano/ news / 2019-03 / cardenalbaldisseri-amazon-indígena-povos-seminário-fao-onu.print.html

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