João Baptista
Anualmente, no tempo do Advento, é-nos apresentada a figura ímpar de João Baptista, “o maior entre os filhos de mulher”. Da sua pregação, ressalta que foi um homem livre em relação a todos, denunciando os caminhos mal andados e inclusive, os do próprio rei, tendo vindo a pagar com a vida a sua nobre coragem. No seu estilo e habituado às dificuldades da vida no deserto, bastava-lhe o indispensável no comer e no vestir: “veste tecida com pelos de camelo, uma cintura de cabedal à volta dos rins, gafanhotos e mel silvestre”. O apelo à urgência da conversão, à penitência e arrependimento era feito numa linguagem que nós não suportaríamos: “raça de víboras”, machado à raiz das árvores e a “pá de joeirar”. Deste modo, anunciava o Messias que estava para vir, o qual, no exercício da sua autoridade, havia de fazer justiça, recorrendo a ações violentas. Entre os que o escutavam, eram poucos os que o faziam “com prazer”, antes tinham razões para ficar amedrontados porque no reinado do Messias os pecadores depressa seriam castigados e os incapazes de conversão aniquilados. Então, haveria lugar para “os meninos bem-comportados”.
Jesus Cristo
Para surpresa de João Baptista e dos seus discípulos, Jesus, o Messias, meteu-se no meio dos pecadores e pediu para ser baptizado, manifestando deste modo que vinha solidarizar-se verdadeiramente com os homens e com eles caminhar, contando com todos, sem excluir ninguém. Como João, livre em relação a todos, realizou o seu projeto de vida seguindo o seu caminho, e até Jerusalém, onde deu a vida, apesar dos muitos conselhos a que se afastasse desta cidade onde estavam os seus principais inimigos.
“Manso e humilde de coração”, atraia a atenção das gentes simples e humildes, e principalmente, dos que sentiam necessidade de salvação. Em vez de castigar os pecadores, deles se aproximava, sentando-se fraternalmente com eles à mesa, a fim de os levar ao arrependimento. No exercício da sua autoridade, nada de exclusões e a oferta dos sinais de libertação: os coxos, os cegos, os leprosos, os paralíticos e os surdos mudos eram curados e aos pobres anunciava a Boa-Nova. Este profeta itinerante, sem “lugar para reclinar a cabeça” surpreendia porque, frequentemente, se afastava das multidões a fim de, na oração e a sós com O Pai, encontrar forças para a sua intensa atividade.
Assumindo a condição de servo e querendo a todos envolver no amor do Pai, não quebrou a “cana já fendida”, nem a “torcida que ainda fumega”. Pelo contrário, a partir do pouco que ainda resta, quis reavivar a chama da esperança.
Os discípulos de João e de Jesus Cristo
Na atualidade, dentro e fora da Igreja, é grande a tentação dos discípulos de João Baptista quererem crescer denegrindo o bom nome dos outros e quererem resolver os problemas substituindo a “pá de joeirar” pela vassoura. A estes, julgo que O Divino Mestre deverá continuar a dizer: “Metei a vassoura na dispensa porque ela vai ser precisa na hora de limpar a vossa casa”.
Em Igreja, como discípulos de Jesus Cristo, recusando as velhas tentações e com uma nova mentalidade, todos os cristãos (e “homens de boa vontade”) têm lugar e são necessários para que a Igreja possa continuar a cumprir a sua missão.